“CHEGA UM MOMENTO EM SUA VIDA, QUE VOCÊ SABE:
QUEM É IMPRESCINDÍVEL PARA VOCÊ, QUEM NUNCA FOI QUEM NÃO É MAIS, QUEM SERÁ SEMPRE.”
(Charles Chaplin)
Graças a Deus hoje é
sexta-feira, minha semana foi bastante exaustiva e eu preciso respirar um pouco
de ar puro e dar um pouco de dengo à minha princesa. Ouço a porta abrir
tirando-me dos meus devaneios.
―Bom dia, Dr. Bernardo!
― O sínico diz.
― Boa tarde, Dr. Christian!
Pelo visto a noite foi boa né, meu camarada?
― Ele me olha com uma cara de deboche.
― Com certeza, você
deveria fazer o mesmo, sair para se divertir, até parece que está na terceira
idade, não quer sair mais na noite, não te vejo mais com nem uma gata, cara você
sabe, eu sou teu parceiro, mas vou te dar um conselho, pode?
― Se eu disser que
não vai adiantar coisa nenhuma? ― Ele balança a cabeça negativamente.
― Cara se permita ser
feliz, saia, conheça gente nova e o principal, abra o seu coração para o amor.
Não que eu acredite em amor, mas você é diferente de mim, eu sou da lei do
desapego, mas você é o tipo de cara que toda mulher quer ter ao lado.
Paro e fico olhando para
ele abismado, já que nunca o ouvi falar assim e sei que tudo o que ele fala é
verdade e para o meu bem. Olho para ele e digo.
― É sério que você me
acha tudo isso?
― Ei! Não me olha
assim, só falei essas coisas para ver se você desperta e se quiser ouvir coisas
melosas, trate logo de arrumar uma namorada tá. ― Começou a rir sem parar. ― Agora
me deixa trabalhar, pois o Doutor aí, vai só trabalhar meio expediente enquanto
nós subordinados vamos até a noite. ― Risos.
A manhã passou rápida
e consegui atender todos os pacientes que estavam agendados e isso me motiva
cada dia mais. Todo o sucesso na minha profissão deve-se muito da minha
persistência, nunca desisti e hoje estou aqui. De repente ouço um barulho vindo
do lado de fora, uma confusão e vozes alteradas, paro e logo reconheço a voz.
― Minha querida, para
a sua informação, eu não preciso ser anunciada para falar com o Bê! ― Oi,
eu entendi bem, ela me chamou de Bê? De onde vem tanta intimidade.
De repente a porta se
abre bruscamente, revelando uma Ana assustada como quem pedisse desculpa.
― Dr. Bernardo, eu
não consegui segurar. ― Diz Ana trêmula. Ela tenta se desculpar com seu olhar
aflito.
― Não se preocupe, eu
conheço muito bem a sua competência como secretária, por hoje é só. Pode ir para
casa descansar e nos vemos segunda. ― Ela apenas concorda com a cabeça e sai,
me deixando com a mulher furacão, que se chama Ellie.
― Ellie, o que você
pensa que está fazendo? ― Ela me fita e fala.
― Menos Bê, essa sua
secretária é muito incompetente, até parece que para falar com você, tenho que
marcar horário ― diz ela. ― Além do mais, somos íntimos e entre nós não há
necessidade de haver formalidade. ― Olho-a e digo num tom autoritário:
― Ellie, eu gosto
muito de você, é uma ótima amiga, mas... ― paro
e respiro fundo. ― Porém, não vou admitir que você chegue em minha clínica,
invada a minha sala e destrate, a minha secretária. Se isso voltar a acontecer,
proibirei sua entrada na clínica e cortarei nossa amizade, você não está me
dando outra opção. Não posso aceitar, tudo tem limites e minha paciência já se
esgotou. Se me der licença, vou terminar de organizar esses papéis, pois vou
viajar agora à tarde e tenho muita coisa para fazer.
Ela vem até mim sem
emitir um som sequer, quando chega bem perto, eu sinto seu perfume e ela olha
dentro dos meus olhos. Esse olhar diz que ela vai aprontar alguma coisa, isso é
o que mais me deixa apreensivo. Ela se senta na cadeira em frente à minha,
respiro fundo, paro e digo:
―Vamos com calma,
estamos no meu local de trabalho e eu ainda estou furioso com você. ― Ela me
olha e diz:
― Bê, me desculpe por
tudo isso. Não vai mais voltar a acontecer, eu sei que agi por impulso e
destratei a...
― Ana. ― A corrijo. ―
Ela se chama Ana!
― Que seja. Vou me
desculpar com ela também. Agora não me olhe assim, eu já sei que estou errada.
Agora como sinal de que você me desculpou, diga que irá almoçar comigo e depois
você segue rumo à sua viagem. Para onde você vai? ― Ela me pergunta.
― Para casa de campo
visitar meus pais. E que história é essa de me chamar de Bê? Ainda por cima na
frente dos meus funcionários. Ellie, Ellie, não sei o que faço com você ― ela
vem e me abraça, mas antes diz:
― Vou te esperar no
restaurante de sempre. ― E sai sem nem esperar a minha resposta. Eu tenho que
ter uma conversa séria com ela, não quero criar falsas esperanças. Ela não é o
tipo de mulher que eu me relacionaria, não pela aparência, mas pelas atitudes
na qual eu não aprovo. Somos totalmente diferentes e nunca daria certo uma
relação entre nós, mas o difícil é fazê-la entender isso.
Saí da clínica e
segui direto para o restaurante, logo que ela me vê abre um enorme sorriso.
― Achei que não viria.
― Ela diz me encarando.
― Mas estou aqui, não
estou. Vamos almoçar que tenho que viajar, e não quero pegar engarrafamento. ― Ela
assentiu com a cabeça, almoçamos em silêncio até que diz:
― Bernardo, ainda
está magoado, mas eu realmente estou arrependida e eu não quero ficar assim com
você eu... ― E se cala, me olha de
volta e diz:
― Me deixa ir com
você? Prometo me comportar, mas só quero ficar com você. ― Vendo onde ela quer
me antecipo e digo.
― Ellie eu realmente
estou magoado, mas vai passar. Eu preciso de um pouco de privacidade, não que
você me atrapalhe, mas também sei que você está com sua agenda lotada e não vou
deixar abrir mão dos seus compromissos, vejo a decepção nos seus olhos, mas ela
não diz nada. Pega sua bolsa me olha, dá um sorriso tímido e sai.
Eu sei que ela não
esperava ser tratada assim, mas eu não quero ela íntima da minha família.
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