quarta-feira, 1 de junho de 2016

Último Romance - Capítulo 03 - DEGUSTAÇÃO

“CHEGA UM MOMENTO EM SUA VIDA, QUE VOCÊ SABE: QUEM É IMPRESCINDÍVEL PARA VOCÊ, QUEM NUNCA FOI QUEM NÃO É MAIS, QUEM SERÁ SEMPRE.”
(Charles Chaplin)

Graças a Deus hoje é sexta-feira, minha semana foi bastante exaustiva e eu preciso respirar um pouco de ar puro e dar um pouco de dengo à minha princesa.  Ouço a porta abrir tirando-me dos meus devaneios.
―Bom dia, Dr. Bernardo! ― O sínico diz.  
― Boa tarde, Dr. Christian! Pelo visto a noite foi boa né, meu camarada? ― Ele me olha com uma cara de deboche.
― Com certeza, você deveria fazer o mesmo, sair para se divertir, até parece que está na terceira idade, não quer sair mais na noite, não te vejo mais com nem uma gata, cara você sabe, eu sou teu parceiro, mas vou te dar um conselho, pode? 
― Se eu disser que não vai adiantar coisa nenhuma? ― Ele balança a cabeça negativamente.
― Cara se permita ser feliz, saia, conheça gente nova e o principal, abra o seu coração para o amor. Não que eu acredite em amor, mas você é diferente de mim, eu sou da lei do desapego, mas você é o tipo de cara que toda mulher quer ter ao lado.
Paro e fico olhando para ele abismado, já que nunca o ouvi falar assim e sei que tudo o que ele fala é verdade e para o meu bem. Olho para ele e digo.
― É sério que você me acha tudo isso?
― Ei! Não me olha assim, só falei essas coisas para ver se você desperta e se quiser ouvir coisas melosas, trate logo de arrumar uma namorada tá. ― Começou a rir sem parar. ― Agora me deixa trabalhar, pois o Doutor aí, vai só trabalhar meio expediente enquanto nós subordinados vamos até a noite. ― Risos.
A manhã passou rápida e consegui atender todos os pacientes que estavam agendados e isso me motiva cada dia mais. Todo o sucesso na minha profissão deve-se muito da minha persistência, nunca desisti e hoje estou aqui. De repente ouço um barulho vindo do lado de fora, uma confusão e vozes alteradas, paro e logo reconheço a voz.
― Minha querida, para a sua informação, eu não preciso ser anunciada para falar com o Bê!  ― Oi, eu entendi bem, ela me chamou de Bê? De onde vem tanta intimidade.
De repente a porta se abre bruscamente, revelando uma Ana assustada como quem pedisse desculpa.
― Dr. Bernardo, eu não consegui segurar. ― Diz Ana trêmula. Ela tenta se desculpar com seu olhar aflito.
― Não se preocupe, eu conheço muito bem a sua competência como secretária, por hoje é só. Pode ir para casa descansar e nos vemos segunda. ― Ela apenas concorda com a cabeça e sai, me deixando com a mulher furacão, que se chama Ellie.
― Ellie, o que você pensa que está fazendo?  ― Ela me fita e fala.
― Menos Bê, essa sua secretária é muito incompetente, até parece que para falar com você, tenho que marcar horário ― diz ela. ― Além do mais, somos íntimos e entre nós não há necessidade de haver formalidade. ― Olho-a e digo num tom autoritário:
― Ellie, eu gosto muito de você, é uma ótima amiga, mas... ― paro e respiro fundo. ― Porém, não vou admitir que você chegue em minha clínica, invada a minha sala e destrate, a minha secretária. Se isso voltar a acontecer, proibirei sua entrada na clínica e cortarei nossa amizade, você não está me dando outra opção. Não posso aceitar, tudo tem limites e minha paciência já se esgotou. Se me der licença, vou terminar de organizar esses papéis, pois vou viajar agora à tarde e tenho muita coisa para fazer.
Ela vem até mim sem emitir um som sequer, quando chega bem perto, eu sinto seu perfume e ela olha dentro dos meus olhos. Esse olhar diz que ela vai aprontar alguma coisa, isso é o que mais me deixa apreensivo. Ela se senta na cadeira em frente à minha, respiro fundo, paro e digo:
―Vamos com calma, estamos no meu local de trabalho e eu ainda estou furioso com você. ― Ela me olha e diz:
― Bê, me desculpe por tudo isso. Não vai mais voltar a acontecer, eu sei que agi por impulso e destratei a...
― Ana. ― A corrijo. ― Ela se chama Ana!
― Que seja. Vou me desculpar com ela também. Agora não me olhe assim, eu já sei que estou errada. Agora como sinal de que você me desculpou, diga que irá almoçar comigo e depois você segue rumo à sua viagem. Para onde você vai? ― Ela me pergunta.
― Para casa de campo visitar meus pais. E que história é essa de me chamar de Bê? Ainda por cima na frente dos meus funcionários. Ellie, Ellie, não sei o que faço com você ― ela vem e me abraça, mas antes diz:
― Vou te esperar no restaurante de sempre. ― E sai sem nem esperar a minha resposta. Eu tenho que ter uma conversa séria com ela, não quero criar falsas esperanças. Ela não é o tipo de mulher que eu me relacionaria, não pela aparência, mas pelas atitudes na qual eu não aprovo. Somos totalmente diferentes e nunca daria certo uma relação entre nós, mas o difícil é fazê-la entender isso.
Saí da clínica e segui direto para o restaurante, logo que ela me vê abre um enorme sorriso.
― Achei que não viria. ― Ela diz me encarando.
― Mas estou aqui, não estou. Vamos almoçar que tenho que viajar, e não quero pegar engarrafamento. ― Ela assentiu com a cabeça, almoçamos em silêncio até que diz:
― Bernardo, ainda está magoado, mas eu realmente estou arrependida e eu não quero ficar assim com você eu... ― E se cala, me olha de volta e diz:
― Me deixa ir com você? Prometo me comportar, mas só quero ficar com você. ― Vendo onde ela quer me antecipo e digo.
― Ellie eu realmente estou magoado, mas vai passar. Eu preciso de um pouco de privacidade, não que você me atrapalhe, mas também sei que você está com sua agenda lotada e não vou deixar abrir mão dos seus compromissos, vejo a decepção nos seus olhos, mas ela não diz nada. Pega sua bolsa me olha, dá um sorriso tímido e sai.
Eu sei que ela não esperava ser tratada assim, mas eu não quero ela íntima da minha família.




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